César Oiticica

Frente a Frente
1954; um então adolescente de 15 anos ingressava no Curso Livre de Pintura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para, um ano mais tarde, fazer parte do Grupo Frente – o mais jovem dos integrantes. Ali, o convívio com Ivan Serpa – o fundador -, e os demais participantes, seu irmão Hélio, Aluísio Carvão, Lygia Clark, Franz Weissmann, Lygia Pape, entre outros, deu a ele a vivência artística na qual se formou. Nos seus primeiros desenhos e cartões sentimos o clima de uma época e a decidida intenção construtiva de um jovem no momento inicial de sua trajetória de artista; a livre estruturação das articulações, combinações e relações formais que caracterizava a abstração geométrica do Grupo, antecipando o neoconcretismo.
Sessenta anos mais tarde, observamos um salto. É de se indagar e admirar como uma pulsão artística permanece viva, capaz de retornar intacta depois de tão longa interrupção. Intacta, mas transformada, pois percebemos nos relevos de César Oiticica, realizados a partir de 2015, uma espécie de eclosão do espaço bidimensional impulsionada pela cor – são relevos que se expandem como o disparo de uma mola. Tantas décadas depois de sua participação no Grupo Frende testemunhamos a articulação cromática planar dos desenhos saltar para estruturas monocromáticas espaciais; os laranjas, vermelhos, amarelos que são também as cores solares dos Relevos Espaciais do irmão Hélio. Tanto na obra de um quanto na do outro podemos verificar agora o mesmo impulso das explorações plásticas neoconcretas; o momento inicial histórico de ambos nos anos 50 e os desenvolvimentos ulteriores. Imagino então que é a disposição para a experimentação presente no Grupo Frente, a “livre criação” de que fala Mario Pedrosa na apresentação do Grupo, que provocou o retorno de César à atividade artística interrompida. Nesse sentido, penso ser possível afirmar que esse é o caso dos seus trabalhos recentes; um desenvolvimento tardio, ampliado e renovado do espírito do Grupo Frente. Frente a frente, nessa exposição.
Paulo Venancio Filho