Amanda Coimbra

Luz estelar ecoando


curadoria
Natália Quinderé

Amanda Coimbra tem fotografado analogicamente céus eclipsados, com nuvens, noturnos, diurnos. Olhando para cima, com sua Rolleiflex em mãos, a artista brinca com o tempo e exposição do filme – decide a quantidade de luz que atravessa o obturador no momento anterior a cada clique. Os slides revelados das fotografias vão parar em uma mesa de luz. Olhando para baixo, com ajuda de um instrumento de ponta afiada, marcadores coloridos e uma lupa, a artista inventa nuvens viajantes, buracos negros, desvios planetários, nebulosas, cometa-lua, ondulações do universo e janelas cósmicas. Somos arremessadas, em visita ao Terreirinho, para um túnel de pontos brilhantes, planetas coloridos e com traços, tal qual tempestade de meteoros.

 

Coimbra atualiza o que Rosalind Krauss chamou de “o fotográfico”, em 1990. O traço indicial, em sua pesquisa, não se situa no jogo entre fotografia e realidade, mas nos usos e sentidos da luz que sua prática aglomera, cria e não cansa de expandir. Os céus, fotografados por Amanda, são suportes para a criação de cosmogonias. A artista fabrica uma série de fenômenos celestes sobrepostos a imagens que foram descritas por Alfred Stieglitz, em 1923, como democráticas. As nuvens, para o fotógrafo estadunidense, estariam em todo lado para todo mundo, liberadas de impostos; gratuitas. A observação do espaço sideral, no entanto, é parte da disputa imperialista dos países do norte global e possui fins militares, políticos e científicos. Os ultra-ricos, em 2025, desejam turistar pelo espaço, ignorantes a respeito da queda do céu.

 

Ao observar as estrelas, esquecemos que esses pontinhos luminosos que nos olham, talvez, não existam mais. Estão a uma distância tão desmedida da Terra que fica difícil de imaginar, calcular e nos relacionar com sua grandeza astronômica. O que é um ano-luz? A luz percorre no vácuo 9,46 trilhões de quilômetros em um ano. O que essa medida de distância nos informa? É um tanto. Amanda Coimbra redimensiona o espaço sideral, utilizando-se da noção de fotográfico. Paisagens estelares passam a estar em nosso horizonte, por meio de desenhos, animações, projeção e impressões em grande formato. Os pontos de vista, aglutinados em seu processo artístico, parecem se conectar às tentativas do poeta de responder o que são estrelas: Como nascem? Para onde estão indo? De que são feitas? “São esferas de cristal e seus movimentos criam uma música no céu.” – Eliot Weinberger escreve.

A expressão ecos de luz explica um fenômeno astronômico de reflexão. A morte de uma estrela gera um deslocamento luminoso que esbarra em massas gasosas e poeiras cósmicas. Os tropeços da luz em corpos celestes fazem com que seu rastro cintilante se espalhe em muitas direções e temporalidades – são os ecos. Quando jogamos uma pedra no rio, testemunhamos as ondulações da água mesmo depois desta desaparecer. O telescópio James Webb, em missão espacial desde 2021, tem captado imagens e dados de eventos de bilhões de anos atrás. Nos jornais lê-se, “Webb capta primeiras imagens do amanhecer cósmico”; “Monstro verde espacial observado pelo telescópio James Webb intriga astrônomos.”

O trabalho artístico de Amanda confabula com a pesquisa científica. Dessa conversa, a imaginação surge como ferramenta importante de elaboração da nossa mundanidade; dos nossos limites. Querer solucionar intrigas siderais espelha nossa existência bigue-bangue e vai além: Há vida extraterrestre? Estamos sozinhos no universo? Astrônomos não se cansam de perguntar. O trabalho artístico, por sua vez, nos oferece a capacidade de sustentar, alimentar, abrigar os mistérios da nossa vida terrena; pé no chão. No vaivém entre arte e ciência, ousar imaginar mundos, universos e multiversos redimensiona nosso tamanho, aqui, acolá, olhando para baixo ou para cima, nem somos um grão de areia nem poeira cósmica, apenas.

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