Luiz Aquila

Panorama do Ateliê
curadoria Lauro Cavalcanti

A ESCRITA da PINTURA 

Esta exposição de Luiz Aquila, « Panorama do Ateliê », apresenta pinturas, desenhos e gravuras, em sua maioria inéditas, realizadas nos últimos dez anos deste século XXI.

O ateliê é o seu local de ação e a pintura o campo a ser explorado. O desenho, na sua definição, assemelha-se ao dedilhar de um músico deixando sons aleatórios prontos a lhe mostrar caminhos de harmonia e composições que irão quase sempre desaguar em telas. Numa direção inversa gravuras em grande formato exploram temas com origem pictórica, além de possuírem os atrativos especiais naquilo intrínseco à sua artesania.

Em “Quase Tudo”, sua retrospectiva no mesmo Paço Imperial em 2012, vi-me tentado a escolher o subtítulo “Never Ending Tour” emulando o nome encabeçando todas as apresentações de Bob Dylan. Nelas, além de músicas novas, há sempre o exercício de dar constantemente versões novas a clássicos muitas vezes apenas reconhecíveis por algumas palavras de suas letras.  O conceito de um som único e totalizante, em permanente movimento, é um dos modos pelos quais o bardo de Minessota expressa a “Zeitgeist” da virada dos séculos XX e XXI.

Voltando ao Luiz Aquila, parece-me que um procedimento similar lhe norteou nos múltiplos ateliês ao longo de sua trajetória. Todas as suas telas são nomeadas principiando pelo termo “A pintura”. A partir daí alternam-se referências a pequenos fatos do cotidiano, citações a pessoas de seu círculo, uma notícia do dia, fatos aleatórios… Os nomes, propositalmente, raramente descrevem a obra em si reafirmando a sua irredutibilidade. Um dos títulos desses novos trabalhos chamaram-me atenção: “A Pintura e o seu Picadeiro continuam”. Um jeito de afirmar a continuidade ao lado de uma certa imprevisibilidade de suas ações: um território que pode ser de lutas, divertimento, ironias, heróis, “clowns” e surpresas.

É possível traçar tipologias e agrupamentos no seu trabalho recente. Nalgumas uma cor explode e domina o campo, sobrepondo-se, ou melhor, definindo embates das pinceladas, todavia, ainda visíveis. De certo modo é o minimalismo possível para uma abstração gestual na qual um tom tudo passa a dominar. Podemos pensar numa família composta pelas telas “A pintura e a pergunta da pintura”, com paleta privilegiando o sombrio, “Novo Desenho antigo” e “Pintura para Manitas del Plata” ambas dominadas por tons vibrantes de rosa, magenta e amarelo.

“A Pintura e as velhas paredes” apresenta uma rara referência direta à arquitetura tema dominante de sua formação, não fosse ele filho de Alcides da Rocha Miranda um dos mais sensíveis arquitetos da era de ouro do movimento carioca de construções.  Formas egressas diretamente do vocabulário modernista, tratadas com alegria desconstrutiva, apresentam o trio “A pintura e seu idílio”, “A Pintura e suas Bacantes “e “A Pintura para meninos e meninas”. A eletricidade disruptiva rompe a organização estrutural em “A Pintura sob a Lava” tal uma avalanche inevitável que a existência por vezes nos prega. 

“A Pintura, o azul e linhas submersas” traz a novidade de linhas horizontais delimitando áreas de cor e uma diagonal que procura, em vão, entrar na conversa.  Pode-se perceber um artista revisitando lógicas antes exploradas assim como criando pujantes desafios.

Em resposta à “Pintura admirada por seu autor” impõe-se o rico fruir dos visitantes ao desvendar o panorama de seu ateliê que poderia ser expresso por “As pinturas e seus encantos nos espectadores.”

 

Lauro Cavalcanti                                    Rio, junho de 2025

Paço Imperial
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